A Criação era perfeita
Plena
Evoluía dentro de todos os parâmetros
Conforme todos os desejos
Mostrava-se como o Pai
A havia manifestado em sua mente
Reduzia-se ao Todo
E formava o grande Nada
A evolução era constante
E as formas se encontravam harmônicas
Mantendo sempre uma unidade
Potencialmente
Todas as criaturas eram definidas
Mesmo que suas raízes fossem únicas
O homem continuava sua evolução
Mas na sua forma primitiva
Ele apenas hibernava no plasma
Na evolução das formas
Ele seguiu o seu caminho
E recebeu um sinal
Que mostrava a sua descendência
Muitos seguiram em frente
Mais alguns
Que ficaram para trás
Que ficaram para trás
Nunca mais puderam repor suas perdas
Estes involuiram no tempos
E suas formas nada transformaram
E sua mente nada mudou
E de primitivos passaram a irracionais
E ingressaram em outro tempo
Os que cresceram
Mostraram logo suas aptidões
Pois era preciso participar de toda a criação
para a sua sobrevivência
Eles eram um com todos
Mais já sabiam que sabiam
Organizaram seus campos e suas posses
Pensaram seus meios
Repuseram seus desejos
Formaram seus estados
Organizaram suas elites
Romperam a casca do saber
Evoluíram na matéria
Do mais etéreo
Ao mais denso
Ao mais denso
E involuíram no conhecer
Do mais profundo à síntese
Do todo ao nominal
E perceberam as emoções
E participaram dos desejos
E sentiram as paixões
E comeram do proibido
E viram a dor
Desde então
Uma nuvem cobriu seu passado
E os desejos corromperam a fome de viver
E as emoções corromperam os desejos de estar
E o pensamento descobriu o poder
E ele ouviu
E ele viu
E ele tocou
E ele saboreou
E tudo lhe parecia bom
E tudo lhe parecia fácil
E tudo lhe parecia belo
E tudo lhe parecia pleno
E ele era o próprio êxtase da criação
Mas sem perceber
Ele não sabia
Que tudo aquilo somente o tornava escarvo
Nada mais lhe era salutar
Que o desejo de possuir
E ele transformou o Amor em amor
E ele transformou a Paz em paz
E ele transformou a Criação em criação
E ele transformou a Vida em viver
E ele soube da morte
Mas não a conheceu no seu aspecto mais puro
Pois dele somente o presente restava
E quanto mais ele era
Mais estava dominado por ele
E quanto mais ele tinha
Mais estava dominado por ele
E quanto mais ele via
Mais estava dominado por ele
E quanto mais ele sabia
Mais estava dominado por ele
Uma grande explosão
Abria-se a tela do tempo
O Infinito
Consumia todos os seres
A bola inflamada
Rasgava o ventre do Universo
E tornava a penetrar no profundo
Na escuridão da treva
Treva que corrompia
Todos os globos incandescentes
Uma cascata de fogo vinha do infinito
Despertando todo o espaço
Consumindo tudo o que dela se aproximasse
Ou que se colocasse a sua frente
O éter
Contribuía para que a mesma se propagasse
E fundisse o eterno
A Unicidade
Se refazia compondo no mesmo ato
As provas que lhe vinham a mente
Já não mais desejávamos estar
Cumprir as adversidades
Que o mundo nos pregou
Esse era o nosso pecado
Girávamos
Rodávamos
Envolvíamo-nos
Em estados catalíticos
Volvendo todos os passados
Então depositados em nossas mãos
Nada mais restava
Para que podessemos reorientar
As lembranças
O amor
A morte
Os desejos
As paixões
As emoções todas
Compunham o nosso testemunho
A posse
O ter
O estar
O dever
O querer
Sempre cumprir este momento
Sempre cumprir este momento
Eram o nosso invólucro
Resgatados do mundo
Envoltos no turbilhão de fogo
Correndo pelo redemoinho
Éramos levados ao sem fim
Éramos consumidos
Éramos mortos
Era o torvelinho do tempo
Na específica ronda do saber
Que norteava mais uma vez
O rumo de tudo
O que se compunha de passados inglórios
Era o transformar dos estados
Que atuava sobre as formas
Inundando os rios
Correndo a larva incandescente
Até o grande oceano
A reunificação se faria mais distante
E muitos teriam que regredir
Nós queríamos volver ao Pai
E lutávamos na corrente
Que seguia sempre mais profunda
Nós lembrávamos do Filho
Quando este venceu os tempos
Aplacou as fúrias
Derrotou o mundo
Nós ouvíamos
Suas palavras
No fundo do nosso coração
E tentávamos soerguer nossa fé
E remover nosso destino
Unimos as mãos
Do nosso interior
Brilhou uma luz
Que só brilha no silêncio
Na mansidão do ser
Quando o ocaso já se fez aurora
Mergulhamos no nosso interior
E abrimos nosso templo
Submergindo na cura do nosso estar
Quando retornamos à nossa mente
Nada mais
Do que ali deixáramos
Havia restado
E os poucos que restaram
Não conheceram a paz
O que ficou
Somente era fogo
E o fogo lhes queimava todo o corpo
Até as entranhas
E suas carnes se desintegravam
E se corroíam como no acido
Eram todos semi-homens
Eram todos vermes
Eram todos escarros da vida
Suas mentes apagaram
Suas visões aplacaram
Suas mãos perderam o sentido de ser
Prostrados
Sem mais nada poder
Com a carne toda corrompida
E na dor
E na dor
Colavam-se ao próprio ponto onde estavam
E somente dos restos pútridos
De seus familiares
Serviam-se como alimento
E quando um somente restava
Clamava aos outros
Que se servissem da sua podridão
Seus ossos eram usados para matar
Sua dor era usada para viver
Do solo subia constantemente uma fumaça negra
Que
Como véu
Encobria toda a luz
Como véu
Encobria toda a luz
Muitos que ainda andavam
Recolhiam para si
Os restos daqueles que não mais viviam
Alguns quebravam em partes
A ossada dos semimortos
Para lhes apressar a morte
E lhes aproveitar os intestinos
Mas o Pai
Que a tudo via
Que a tudo permeia
Que a tudo permitia
Pois tudo aquilo somente ocorrera
Porque ele o havia permitido
Reconheceu naqueles mais débeis
A santidade
Naqueles mais fracos
A força
Naqueles mais podres
A humildade
Naqueles mais mortos
A Vida
E lhes deu o Amor
E lhes devolveu a Terra
E os colocou um novo Tempo
Chamou para si o último
E o instruiu
E o fez ver o passado
E conhecer tudo
O que lhe era permitido
E disse!
Este povo é teu
Tira-os da podridão da lama
Tira-os da terra
E coloca-os a meu serviço
Pois os dias em que estareis aqui
Estão contados
Cumpre tudo isto como vos digo
Pois a tua carne corrompida
Não suportara por mais tempo
Deixa uma geração
Para que eu a faça meus representantes
Uma outra grande explosão se ouviu
E o fogo
Que tudo consumia
Que tudo consumia
E que jogava sua fumaça negra como véu
Encobrindo a luz
Aplacou
Comeu suas chamas
Um ardente clarão desfez-se em raios
Banhando toda a criação em Luz
Luz forte e envolvente
Que nada permitia lhe fugir
E foi àquela hora
Que nosso pai saiu a nos procurar
E um a um foi chamando pelo nome
E um a um foram chagando a sua morada
E quando todos reuniram
Ele nos abençoou
Uma grande tempestade cobriu toda a criação
A água banhava nossos corpos
E limpava nossas feridas
E curava nossa dor
Mas ela principalmente
Purificava o nosso espírito
E quando ela se foi
Nada mais restava
Que testemunhasse a corrupção
A presença do pútrido
Do mal
Era o terceiro dia
Na penúltima volta do tempo
Deus Criador!
Redentor do meu passado
Causa dos meus efeitos
Lástima da minha memória
Seqüência do meu viver
Entrego-me a tua memória
Para que a tua Razão
Me possa restituir a glória
De poder estar novamente ao teu lado
Nesta explosão de prazer
Pai Criador!
Remove de mim esta agonia
Para que eu possa novamente te ver
Dentro das limitações que me são impostas
Para que eu possa refletir a vossa luz
Dentro da limitação do meu estar
Para que eu possa ver
Sentir e querer sempre
Sentir e querer sempre
Teu amor
Pai Sagrado e Celestial
Aqui estou a espera do teu sinal
Para que eu possa segui-lo
Nos caminhos por ti traçados
Para a minha próxima dor
E para que eu encontre também a minha redenção
Este meu corpo de nada me serve
Se nele não colocares o teu Espírito
Este meu corpo me corrompe o ser
Se nele não colocares o teu Amor
Este meu corpo me dói a alma
Se nele não colocares a tua Paz
Me eleva aos sete planos
Me toma de desejos
Me traz de volta à vossa Casa
Um dia
Eu serei um contigo
Eu serei um contigo
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