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TEMPO MENTAL



Estava amanhecendo
Quando saímos a caminhar
Pela praia
Nosso pai à frente
chamava nossa atenção
Sempre que tinha algo de peculiar
e que nos permitiria uma melhor compreensão
da sua palavra

- Se tendes algo a fazer que o faça!

Nunca esperem respostas do amanhã
É no hoje que estão contidas
As setas do vosso caminho

Caminhem no vosso coração!

Vosso coração deve estar
Em ressonância com o
Coração do que almejais
Para que
Em sintonia
Possais melhor compreender
E ser compreendido

E assim todo o Universo
será um convosco
e vos ajudará nos vossos fins

Ele falava
Mas seu olhar perdia-se no mar
E seus pensamentos
acompanhavam o sopro do vento

E ele observava
Quando
O mar e o vento
Trocavam seus corações
E se acariciavam
E transformavam e davam formas

E cada um sabia de sua canção
Mas ambos comunicavam sua melodia
Sem que a harmonia ferisse
A cada coração

O vento contava as histórias dos pássaros
O mar dos peixes
E nenhum deles parava para contestar o outro
Ambos eram o nascente
E o poente dos seus sonhos
Cada um a sua parte
integrados no Todo

E nosso pai
Que a tudo compreendia
Comparava
E nos fazia perceber
O Eterno

E diante de uma gota d'água
Ou de um grão de areia
Ou até da espuma que corria na praia
Desintegrando-se
No borrifar das ondas
No reflexo do sol
Cintilando como estrelas
Ele oscultava os seus corações
E se entregava
E se integrava

E eram estes os seus melhores momentos
Para nos falar
Para nos ensinar

E ele nos ensinava
E ele nos falava

- Muito sutil eram todas as criaturas
quando o sopro
que sopra sempre que invade o outono
nova ressaca sopra
dentro de todas as narinas

E o sutil
Principiava sempre pelo mais etéreo
Na forma e na mente

E cheio de graça
Permanecia no seu desenvolvimento
Por todo um tempo infinitesimal
Até que tudo se tornasse Real
E se transformasse numa nova Ronda

A Mente Divina
Revendo todos os seus passados
Chama o criador e promete novos tempos
E remete a tudo e a todas as novas vidas

E do Divino
Se refazem todas as glórias
E à sua semelhança
Se refletem todos os espelhos
E as suas formas eram por demais severas

Faz uma pausa
olha a onda que rola
e se mantém escutando o vento que sopra

Olha o céu limpo
Um bando de gaivotas
pousa logo a nossa frente
Ele continua
Manso a sua fala

- O estalo
O estampido do que cria
Ouve-se longe
Na glória dos céus

E todos os Anjos e Arcanjos
Dão glórias pela nova criação
E seguem cantando os cânticos celestiais

Monta-se o palco
Tudo se reflete na eternidade do ser

Tão logo se criam os quatro elementos
A metamorfose se dá
E se condensam todos os sopros
E se materializam todos os pensamentos
E tudo o que era um projeto
Uma forma incontida
Reduz-se agora
À simples matéria

Ao fogo que tudo abrasa
A água que tudo resfria
Ao vento que transforma as formas
A terra que eleva as dimensões

O homem despertou!

Ele que fora durante longo tempo
Espírito
Agora era carne

Ele que durante longo tempo
Gozou as delícias do sutil
Agora era matéria

Ele que fora a imagem e semelhança
Do Criador
Agora se sentia o próprio criador

E se disseminou por toda a Terra

No Universo em si
Ele já era todos os tempos

E também o homem se viu egoísta
E tudo quis para o seu uso próprio
E se viu possessivo e tudo desejou
E se viu poderoso e tudo consumiu
E se viu capaz e tudo destruiu

Por fim!
Nada mais tendo para o seu deleite
Ele se viu vazio
Viu-se só
Viu-se único
Era individualista
E se auto-destruiu

Mas o Criador
Respeitava plenamente sua criação
E nada o fazia desistir
Porque a sua Ronda devia ser preservada

E como Ele amava
Acima de tudo
O seu Filho
Deu-lhe toda a continuidade
Deu-lhe todo o poder

De criar e transformar

Deu-lhe o privilégio
De reviver os mortos

E como aquelas criaturas faltaram
Novas criaturas ele pôs
Para que estas cumprissem
O restante do destino traçado

No ponto de inflexão
O homem estava dominando sua consciência
Ele conhecia
Ele sabia
Ele dominava
Ele sabia que sabia

Mas ele tinha perdido todas as suas formas sutis

Foi-se o tempo
Foi-se o vento
Foi-se a luz
Foram-se todas as coisas
Que o Pai nos deixou

E a leve brisa
Que restou
Levou de vez as paixões

Nosso pai
Saiu em direção ao mar
E com as mãos elevadas aos céus
Gritou

- Pai!

Como eu gostaria
De poder enviar-te
O meu hálito
Para que possais me colocar
Na vossa memória

Se quisesses ó Pai,
Transportarias todos os meus alentos
Para bem longe desta dor
Que me atormenta
E que se reveste de súplicas

Suas lágrimas rolaram até as águas do mar
E os dois corações se uniram
E reconheceram em si
Suas naturezas.


A Síntese que se formou
Reiniciou um novo período na respiração do Eterno

E a Vida
Que Ele inalava
Exalava como Fogo
E como paixões

Este Fogo
Que tudo destruía
Comandava a grande ressurreição
E dava novo alento aos parias

E tudo era um redemoinho
E tudo rodava na roda da sabedoria
Até que novamente
A Verdade se propagou
E levou de volta ao Todo Existencial
A mensagem dos aflitos

A água já não era mais revolta
Mansa dava novos ares de brandura

Sua colocação
Era para sempre desprezada dos homens
Mas toda a sua posteridade
Sabia da sua importância
E renegava a sua origem

Não mais se queria
Que se soubesse de tudo o que era
Pois o que será
Há de vir dos tempos remotos da Sabedoria
Onde nem tudo já fora passado

A água mansa cessara
O mar se impunha
E suas ondas eram cada vez maiores

E quando morriam na praia
Eram como serpentes
Que circulavam a areia
E limitavam sempre mais próximo do caos

Tudo vinha evoluindo sempre para maior
O que antes era somente alento
Passado
Agora eram grandes manifestações de tormentas
E ventos fortes
Que circulavam por todos os horizontes

Novamente morria um temporal
E novamente comandava
Uma nova derrota do destino

E tudo voltava a ficar brando e suplicante
E todas as marés se transformavam
E novos alentos e novas súplicas

E assim o ciclo da mente se refazia
E era cada vez mais dominante no ser criado

Evoluindo
De alento a tempestades
Eclodindo
De forças a mansidão
Poluindo todos os seres
Com suas manifestações decadentes
E concretizando suas palavras em novos alinhos

E foi chegando a aurora de vidas
Que se parecia com a vida espiritual
Porque tudo se tornara mais benéfico
E mais transparente
Mas sempre turvado
Por novas ameaças de tempestades
E novas ameaças de fogo

A água
Continuava a beneficiar
Àqueles que dela se aproximavam
E sua mansidão
Mesmo turvada de breves devastações
Mantinha seu equilíbrio além

Ora !
O Alento Espiritual
Que era sempre mais puro
Somente conseguia uma nota por vez
E somente fazia uma cura a cada milênio

Todos olharam para longe e reviveram
Todos olharam para longe e cegaram
Todos olharam para longe e fugiram
Todos olharam para longe e morreram
Todos olharam para longe e
Não mais podendo se esconder
Suplicaram o perdão
Todos olharam para longe
E viram
Que a morte era involuntária
E que sua vingança
Não se fazia pelo passado
Mas somente pelo presente não sabido

- Não quero mais suportar este tormento!

- As coisas que vem do Paqi só eu as sei!

Suas lágrimas
Eram paz para a nossa alma

Sua dor
Era alimento para o nosso corpo

O Eclesiastes doravante renasce

A canção
É a razão para a pedra
Que pousa dentro do Pássaro de Fogo
Subir aos limites da Sabedoria

Aos poucos ele se eleva
E já não mais a água lhe tocava os pés
E o próprio vento era quem lhe consumia as lágrimas
E o seu coração era uno com o Eterno.


Bem sei que sempre estarei presente
Quer vos queirais ou não
Presente na vossa memória.
Na vossa memória do porvir
No vosso desejo de esperar
No vosso saber de aguardar

Tudo o que um dia ficou solicitado
E que agora é para sempre
Não mais terá apoio
Nos pés da vossa sabedoria
Na canção do vosso silêncio
No renascer da vossa alma
No simples desejo de jogar para bem longe
Tudo o que vos repele o odor

Estávamos todos de joelhos
Em silêncio
Contemplávamos a Luz que se formara
E a Voz que repercutia
Nos elevava o espírito


Orai !
Orai pelo vosso passado
Orai pelo vosso irmão
Orai para que sempre tudo esteja acima
Orai para que tudo se restabeleça
Orai para que a dor não se concentre na vossa casa
Orai para os mistérios nascentes
Orai pelo porvir da sabedoria



Leva a vossa mão ao oráculo do Senhor
E o Pai vos dará o vosso censo

Mantém calado o vosso desejo de ser
Refaz no vosso poder
cada palavra da vossa castidade

A memória dos aflitos
Tende a mostrar
Que vossa memória não mais é vossa
Que o vosso pensar
Já não mais e do vosso pensar
Que a vossa beleza
Somente é a vossa nobreza
Que o vosso passado
Se enche de tanto dar

Quando quiserdes beber da Água da Fonte
Vás à minha serpente
Colhes
No meu colo
O gotejar do meu peito
Te inseres no meu útero
E revolves a vossa dor
Para que assim possuas a vossa afirmação
E a vossa sabedoria

Quem de vós
Já viveu eternamente sem colher os frutos
Os santos o sabem!

A vida é que queima as origens
A mente é que refaz os desejos satânicos
A dor é que desperta a pureza
A Água Viva
Que cai do manancial da Fonte
É que restaura a alegria

Quem bebe da vossa singeleza ?
Quem receia a vossa taça ?
Quem alimenta o vosso polegar ?
Quem gere as vossas lembranças ?

A minha taça é pobre
E o meu prazer é puro
A minha dor é nobre
E o meu passado é tudo

Não quero somente vos encontrar
Como também beber no vosso altar
Não quero somente vos saber
Como também ter o vosso prazer
Não quero somente vos amar
Como também vos suplicar
Não quero somente me perder
No doce prazer do convosco estar
E poder elevar a minha paz
No mais longe caudal do ter

Me dá a vossa canção de morte
Me dá o vosso respaldo de dor

Que mente macia
Que voz sussurrante
Que silêncio profundo
Que amor que me eleva
Que calha que é pura
Que malha me tramas
Que abalo concedes
Para que eu possa correr
Para que eu possa viver
No mais longe do teu altar
No mais feliz do teu amor

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